domingo, 7 de novembro de 2010

Tudo é Decidido Dentro Dos Três Primeiros Anos?

Español
English
Não Há Tempo a perder!
1er Neuromito: "Tudo O Que é Importante Sobre O Cérebro é Decidido Dentro Dos Três Primeiros Anos"

Se você digita em seu computador as palavras-chave “Do Nascimento Até os Três Anos" em um motor de busca, recebe um número impressionante de web sites, explicando que para seu filho os três primeiros anos são cruciais em seu desenvolvimento futuro e que praticamente tudo é decidido nesta idade. Você também vai encontrar muitos produtos comerciais, preparados para estimular a inteligência de seu menino, antes de chegar a essa idade limite.



Alguns fenômenos fisiológicos que ocorrem durante o desenvolvimento do cérebro podem, de fato, levar a crença de que as fases críticas da aprendizagem ocorrem entre o nascimento e os três anos de idade. Mas esta afirmação pode ser facilmente exagerada e distorcida. Ela recebe status mítico, quando é usado em demasia pelos formuladores de políticas educativas, educadores, fabricantes de brinquedos, e os progenitores. Os pais oprimem a seus filhos com ginástica para recém-nascidos, y os estimulam com música em gravadores e leitores de CD perto da cama do bebê. Sem embargo, Quais são os fenômenos fisiológicos que as pesquisas hão revelado y que são importantes na persistencia desta crença?




O componente básico de processamento de informações no cérebro é a célula nervosa ou neurônio. Um cérebro humano contém cerca de 100 bilhões de neurônios.

Cada um pode ser conectado com milhares de outros, o que permite que a informação nervosa circule em forma intensa e em várias direções ao mesmo tempo. Através das conexões entre os neurônios (sinapses), os impulsos nervosos viajam de uma célula para outra servindo para o desenvolvimento de competências e apoiando a capacidade de aprendizagem. O aprendizado é a criação de novas sinapses, com o fortalecimento ou enfraquecimento das sinapses existentes.

Em comparação a um adulto, o número de sinapses em recém-nascidos é baixo. Após dois meses de crescimento, a densidade sináptica do cérebro aumenta exponencialmente e ultrapassa a de um adulto (com um pico em dez meses). Então se produz um declínio constante até a idade de 10 anos, quando o “número das sinapses do adulto” é atingido. Ocorre depois uma relativa estabilização. O processo pelo qual as sinapses são produzidas em massa é chamado sinaptogênese. O processo pelo qual as sinapses declinam é referido como a poda. Todo isto é um mecanismo natural e necessário para o crescimento e desenvolvimento.


A ciência, durante muito tempo, acreditava que a número máximo de neurônios era fixado no nascimento, ao contrário da maioria outras células, não se pensava que os neurônios se regenerem, e que as pessoas vão a perder neurônios regularmente. Da mesma forma, após uma lesão do cérebro, a destruição das células nervosas não seria substituída. Nos últimos vinte anos, os resultados mudaram essa visão, revelando até então insuspeitos fenômenos: novos neurônios podem aparecer em qualquer momento da vida de uma pessoa (neurogênese) e, em alguns casos, o número de neurônios (pelo menos) não flutua.



Dito isto, a sinaptogênese é intensa nos anos iniciais da vida de um ser humano. Se a aprendizagem fosse determinada pela criação de novas sinapses - uma idéia intuitivamente atraente - há um pequeno passo para deduzir que é nos primeiros anos de uma criança é quando o/a menino(a) é mais capaz de aprender. Outra versão, mais atual na Europa, é a visão que as crianças muito jovens devem ser estimuladas constantemente em seus primeiros dois a três anos, a fim de reforçar as suas capacidades de aprendizagem para a vida subseqüente. Na verdade, estas afirmações vão além da evidência científica real.




Um experimento conduzido há vinte anos pode, no entanto, alimenta este mito. O estudo de laboratório com roedores mostrou que a densidade sináptica pode aumentar quando os ratos foram colocados em um ambiente complexo, definido no presente caso, como uma gaiola com outros roedores e diversos objetos para explorar. Quando esses animais foram posteriormente testados em um labirinto da aprendizagem, tiveram um desempenho melhor e mais rápido do que outros ratos que pertencem a um grupo controle e que vivem em "pobres" ou "isolados" ambientes (Diamond, 2001). A conclusão foi que os ratos que vivem em entorno "enriquecido" tiveram aumento da densidade sináptica e tem, portanto, mais capacidade para executar a tarefa de aprender.



Os elementos estavam no local certo para criar um mito: uma grande experiência, bastante fácil de entender, mesmo de difícil realização, e os resultados desse projeto de acordo com o esperado.



No entanto, O experimento ocorreu num laboratório em condições altamente artificiais. E ainda mais foi realizado em roedores. Os não-especialistas apoiaram que os dados experimentais em ratos, obtidos com precisão científica inquestionável, combinado com as idéias atuais sobre o desenvolvimento humano se pode concluir que a intervenção educativa, para ser mais eficaz, deve ser coordenada com a sinaptogênese.

Como alternativa, eles sugeriram que, ambientes "enriquecidos" salvam as sinapses da poda durante a infância, ou até mesmo criam novas sinapses, e como resultado desta ação contribuem com aumento da inteligência e maior capacidade de aprendizagem. Este é um caso de utilização de fatos dum estudo válido para ser extrapolado até conclusões que vão muito além da evidência original.

Os limites e as lições deste caso são bastante claros. Há poucos dados neurocientíficos em humanos sobre a relação preditiva entre a densidade sináptica no início da vida e o melhoramento da capacidade de aprendizagem. Da mesma forma, há poucos dados disponíveis sobre a relação preditiva entre a densidade sináptica em crianças e adultos. Não há nenhuma evidência direta da neurociência, tanto para animais ou seres humanos, que liga a densidade sináptica adulto com uma maior capacidade de aprendizagem. Tudo isso não significa que a plasticidade do cérebro, e sinaptogênese em especial, não poderia ter alguma relação com a aprendizagem; não obstante, com a força da evidência disponível, as suposições feitas na identificação de um papel tão determinante entre o nascimento e os três anos no desenvolvimento cerebral não pode ser sustentado.




Para maior informação, o leitor deve consultar o livro de John Bruer “The Myth of the First Three Years” (2000). Ele foi o primeiro que sistematicamente questionou este mito, que lhe apresentou como "enraizado em nossas crenças culturais sobre as crianças e a infância, em nosso fascínio pelo mente-cérebro, e em nossa necessidade constante de encontrar respostas tranqüilizadoras para perguntas inquietantes”

Bruer remonta-se ao século 18 para encontrar sua origem: nessa época já se acreditava que a educação da mãe era a força mais poderosa para mapear a vida e o destino de uma criança; filhos bem sucedidos foram aqueles que tinham interagido "bem" com sua família. Ele (Bruer) elimina um por um os mitos com base em interpretações defeituosas de sinaptogênese que se produz cedo.

"Understanding the Brain", The Birth of a Learning Science, 2007, pages 111 - 112

Nenhum comentário:

Postar um comentário